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Trilhos e viagens

 

-Vivemos em Paris – respondeu o jovem casal na baía da Engrade, ao dirigir-se, por um trilho pedestre, junto à costa, para o Farol da Manhenha.

-Ah, Paris, grande diferença desta paisagem! – atalhei eu.

-Podemos passar por aqui?

-Com muito cuidado. Olhe, ali a escada abateu. Por isso é que aqui escreveram PERIGO, - respondi-lhes no meu francês arrepiado.

E os visitantes, residentes na cidade das luzes, partiram, como se já conhecessem o caminho rochoso que circunda a bela paisagem da costa leste da ilha do Pico, tendo em fundo São Jorge e a Terceira.

Já o afirmei, várias vezes: passam, diariamente, pela Ponta da Ilha, dezenas de estrangeiros – muitos a pé, alguns de carro. Fazem-se acompanhar por um roteiro, mas ao encontrarem o sinal de perigo, ficam perplexos. Alguns arriscam, outros seguem em frente, pelo caminho alcatroado do interior.

O tradicional e muito concorrido trilho, esteve transitável até ao ano passado.

A erosão natural junto à costa, provocou uma derrocada e, agora, torna-se muito perigoso por ali passar, sobretudo a quem não está habituado a andar sobre estas « pedras negras » que tanta beleza nos proporcionam e tantas feridas e maus tratos nos causam.

Esta situação, porém, não deve ser impedimento para fechar trilhos tão concorridos como este.

Uma pequena e estreita ponte de madeira, bem estacada, resolveria o problema, sem grandes custos; e madeira é o que não falta por esses matagais fora. Esta seria a melhor forma de proteger o ambiente e a natureza. Quando o homem deixa de usar a paisagem onde habita, esta desumaniza-se e desvaloriza-se.

Não entendo por que é que os vigilantes da natureza não foram incumbidos de resolver esta e outras situações que, naturalmente, ocorrem. Ou será que estão mais preocupados em vigiar quem corta uns pés de incenso e de faia, de pau branco e de urze que, de ano para ano, se alastram por esses matos fora, sem que haja capacidade de os conter?

Nestas questões do ambiente, vale mais o homem destas ilhas usufruir dos seus benefícios do que ser esmagado pelas infestantes que se reproduzem por demais.

Enquanto trocava impressões com o Figueiras, alentejano do interior profundo, encostado a Espanha, que perante a paisagem só afirmava: que maravilha!...que maravilha!...o Eduardo dava mais um mergulho na baía, em cata de mais uma lapa. O miúdo tem uma desenvoltura no mar que dá gosto. Mergulha até quatro metros de profundidade, mas já foi aos sete, atrás de uma lapa. Hoje apanhou dois quilos, umas maiores outras mais pequenas para molho afonso. Há dias, capturou seis quilos e vendeu alguns.

Lapas é petisco que não tem faltado por aqui. Os mergulhadores dizem que há, com fartura, e que para o ano não vão faltar. Mesmo assim, quem pretende matar o desejo, tem de desembolsar pelo menos 10 euros/kilo.

O mar, nesta ponta da ilha, tem proporcionado a apanha e também a captura de bonitos. As traineiras andam junto à costa e ao largo continuam a passar iates.

Domingo, à tarde, um veleiro navegava pelo canal abaixo, em direção ao leste.

-É o Crioula! – dizia o Gonçalo, filho de marinheiro da armada.
-Não é, é a Sagres! – atalhava a mãe, cujo cunhado deu duas voltas ao mundo.

Para desfazer dúvidas agarrei no meu binóculo, comprado há uns anos em Andorra, e pousei-o sobre o parapeito da varanda para ver com mais nitidez.

O veleiro navegava com forte brisa e não consegui ver nem a cruz de Cristo estampada nos panos, muito menos o nome do barco.

Só no dia seguinte, quando o Diário dos Açores chegou, confirmámos que se tratava da SAGRES, em viagem da Horta para Lisboa.

Na época das comunicações e da globalização há quem opte por afastar-se das grandes metrópoles e passar uns dias no meio da natureza e de um ambiente saudável.

Por isso, não se justifica encerrar um trilho pedestre quando uma pequena ponte de madeira, proporcionaria a gente de outros mundo, experiências que deficilmente repitirão, por estas paragens.

 

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